Jim
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29/08/2013
Saber as intimidades e detalhes das vidas de pessoas que de alguma forma influenciaram o mundo, sempre fascinou o público. Razão pela qual os relatos biográficos, independente do veículo midiático, renderem obras que ajudam a decifrar o homem que existe por trás da imagem. Jim, espetáculo dirigido por Paulo de Moraes, utiliza a vida de Jim Morrison, vocalista e líder do grupo The Doors, para provocar uma reflexão sobre a perda da identidade, entre outros temas.
O texto de Walter Daguerre aprofunda as questões levantadas pelas letras e poesias de Morrison através do personagem João Mota: um fã que vê sua vida se confundir com a do seu ídolo. Uma identificação marcada pela frustração de não ter conseguido realizar aquilo que ansiava. Desse choque existencial, Daguerre ilustra a ideologia de Morrison e as suas influências, como a do poeta Rimbaud. Partindo dessa premissa, Mota irá percorrer uma jornada repleta de dúvidas a procura do autoconhecimento.
Com essa abordagem, Daguerre descreve várias passagens da vida de Morrison, como também suas reflexões. Tudo isso com o adendo do olhar de Mota. Interessante que esse jogo cênico transforma-se em certo ponto numa discussão filosófica ambientada na linha tênue entre o consciente e inconsciente. Isso acontece porque tanto Morrison quanto Mota são interpretados por Eriberto Leão, em uma atuação feroz que equilibra agressividade com doçura, esperança com desilusão, paixão com estupor. Eriberto utiliza cada poro de seu corpo nessa composição. Se Morrison era considerado o rei lagarto, Eriberto incorporou uma das mais conhecidas características desses répteis: a capacidade de regeneração, que aqui não é só a física, mas principalmente a emocional.
Junto com Eriberto no palco, a atriz Renata Guida que constrói uma representação de três personagens femininos: Pamela (mulher de Morrison), a esposa de Mota e um aspecto conceitual da força criadora da Mãe Terra.
Eriberto canta 10 canções do The Doors, dando uma cara de show ao espetáculo. Intercalando as músicas, os pensamentos fragmentados de Mota, que ao final ganham diversas camadas de significado, da mesma forma que Morrison fazia com as suas poesias. As canções são acompanhadas pelos ótimos músicos Zé Luiz Zambianchi (teclado), Rorato (bateria) e Felipe Barão (guitarra).
Em certos momentos, a plateia se sente transportada para os lisérgicos anos 70, devido à iluminação hipnotizante de Maneco Quinderé. Auxiliando nessa concepção, os figurinos de Rita Murtinho e a cenografia de Paulo de Moraes.
Jim não é um simples espetáculo biográfico sobre a vida de Jim Morrison. Para isso já existem livros, documentários e filmes. A peça de Paulo de Moraes é uma interessante e inteligente viagem que procura abrir a porta da percepção. Uma manifestação artística que condiz com a nossa atual realidade.
Serviço:
Local: Teatro Leblon - Sala Tônia Carrero
Endereço: Rua Conde Bernadotte, 26, Leblon
Dias e horários: Terça, Quarta e Quinta 21h.
Preços: Plateia: R$ 70 (ter e qua) e R$ 80 (qui); Balcão: R$ 50 (todos os dias).
Temporada até 26/09.

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